Entrelinha ( S. F ) : aquilo que está implícito entre duas linhas mudas.

Entrelinha não é um buraco de fechadura. É um risco de fora a fora, com letras garrafais. Uma pixação vermelha que berra no muro branco. Aqui, as palavras não rimam. A poesia dá lugar para as crônicas egocêntricas da minha percepção mundana.Entre e fique à vontade!

terça-feira, 1 de julho de 2008

SkaJazzseiláoque

Tira de Lucas Tonon Gehre
(
hahaha-naotemgraca.blogspot.com)

"Cada vez que eu dou um passo,
o mundo sai do lugaR... "

É incrível como o mundo anda rápido depois que você faz 18 anos. Depois que você faz 23 então, ele voa. Fico pensando o que vai acontecer quando eu tiver 40... Será que ainda vai ter ritmo pra correr tanto como corre hoje? As coisas são efêmeras na minha vida. Tá, já sei. Em todas as vidas, as coisas são efêmeras... Mas na minha, sinto que é que tudo é mais rápido. Mais apressado. Mais ritmado. Às vezes sinto falta da calma. Do eterno. Do suave. Como alguém pode se apaixonar em um segundo? Deixar de amar em uma noite? Como posso acordar feliz hoje e dormir triste amanhã? Porque essa mutação constante insiste em caminhar comigo?

Ontem teve um show delicioso no calaf. SkaJazzseiláoque. Nunca sei o nome de nada. Mesmo porque o nome não muda a essência das coisas. Como dizia Shakespeare, rosa vai ter cheiro de rosa, mesmo você chamando a de margarida. Lógico que ele fala isso de uma forma magnânima, num solilóquio da boba e doce Julieta, mas enfim. Estava lá no meio de som maravilhoso, quando um amigo mais que intimo me sentenciou: "Ou você tá apaixonada. Ou tá sofrendo. Ou as duas coisas juntas. Sempre!". Comecei me defendendo, dizendo que eu gosto de extremos. Que ou as pessoas me amam, ou que me odeiam. Que sou assim mesmo: me apaixono por qualquer um em qualquer dia. Estou sempre aberta para amor. Depois de algumas risadas de confirmação dos amigos próximos, segui dançando pela noite.

Mas aquilo ficou na minha cabeça: Que necessidade besta é essa de querer sempre tá apaixonada? De ser só lágrimas ou só suspiros? Porque não andar no meio termo? Uma pessoa madura seguiria esse caminho. Já sei... Você leu muito conto de fadas quando era pequena. E depois leu muito Vinicius de Moraes. E também muita filosofia barata de beira de esquina. Deu no que deu: intensa, imatura e insana. Agora como mudar isso?

Se você ligar a televisão, vai ver uma propaganda boba de refrigerante: você muda, o mundo muda, a nossa embalagem de refrigerante muda. Tá. Mudar a embalagem é muito fácil, né? Corta o cabelo, se veste diferente, põem aparelho nos dentes e escuta qualquer outra besteira. Já fiz isso mil vezes em uma semana. Mas como eu faço pra mudar o sabor ? Aquele que faz a rosa ser rosa mesmo que a gente a chame de margarida. É isso que eu quero saber.

Será que eu ia ser quem eu sou, parando de suspirar pelos amores perdidos? O que seria de mim, sem meus vícios? A minha risada gigantesca? Sem optar sempre pelos meus amigos em caso de dúvida? Sem as poesias escritas em um dia? Sem o jeito imaturo de se relacionar? Sem a paixão eterna pelo teatro? Será que assim, enfim, eu ia virar uma moça de fino trato? Aquelas que precisam de contrato pra amar, de certeza pra trabalhar, de normalidade pra viver. Será?

Minha mãe diz que eu sou teimosa. Sou mesmo. Talvez um dia, eu mude. Me vire do avesso. Deixe de ser Paty Lú, pra ser senhora Patrícia. Perca o apelido, perca o endereço. Sei lá. Por enquanto eu vou seguindo nesse SkaJazzseiláoque. A música tá boa, às vezes desafina. Normal também. Porque nem sempre é fácil mudar de estação, ainda mais de radio.


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